terça-feira, junho 21, 2005

-Saliva Sem Sabor-

Hoje os cobertores dormem na relva do Jardim da Praça da República. O despertador inicial é a luz da aurora que penetra no sono. Horas depois o alvoroço citadino manifesta-se por entre o alcatrão. Os passeios enchem-se de gente. Os semáforos agudizam um som estridente. Buzina-se. Calcorreia-se a areia do jardim. As aves esvoaçam. O vento sopra, queda-se. A humidade mescla-se com o calor. Está abafado e o ar bafiento. Ainda dormem os cobertores no jardim. Por ora ficam por lá. Ainda não é hora de levantar. Quanto tempo mais sonham? Com o que sonham? Ficam por lá. Os cobertores têm poeira; entre eles alguém se enrodilha todos os dias. Não dormem, silenciem, por horas, a dor da saliva sem sabor.

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