sexta-feira, setembro 26, 2008

Bielman F.

Os fios do chuveiro entram em curto-cirtuito. Czlap. Pifff! Não percebe. Ensaboa o corpo. Esfrega os pêlos do sovaco com violência redundante que quase arranca os mais velhos. A espuma escorre sorrateiramente pelos pêlos do peito, grossos e pretos. E agora peçonhentos de sabonete barato.
Cheira a queimado. “A vizinha de certeza”. Tudo se ouve. Tudo se cheira. Os cheiros todos se misturam de andar em andar com perfeita promiscuidade entre amante-marido-mulher-amante-marido-mulher. Parece plástico chamuscado, mas àquela hora, nada lhe ocorria que pudesse assemelhar-se a iguaria gastronómica com subtilezas chamuscadas. A água escorre quente. Mais um czlap-pifff! Faiscante. Colapsos eléctricos. O frenesim disparado vai carcomendo o fio vermelho, encostado ao branco enfarruscado. O telefone toca. Uma, duas, quatro vezes intermitentenente. “A vizinha, de novo”. Cinco vezes. A água vai escorrendo. Escorre, desliza e percorre o corpo branquela como nenhuma mulher há meses. Ele pensa nisso e acha que não deve ficar por aí. Mas o telefone toca. Uma. Duas....Desabituou-se ao ring. Não se recorda da última vez. Cheira a queimado. Enrola a toalha numa desordem. Molha o corredor de madeira rangente. Os pés nus assolapam o piso de líquidas memórias de água e sabonete. Atrás, o chuveiro escorre. A faísca, de novo. E a água ali tão abeirada. O fio estorricado. Quinta vez. Levanta o gancho do telefone anos 80 chapado no retro.
-Senhor Bielman! Hoje à noite. 21h. Dois cigarros depois. Leve a carta!
Desligou. Czlap-pifff! O painel eléctrico estourou.

terça-feira, setembro 23, 2008

Está quente
A chuva treme lá fora
O inferno arde no gelo de humanidades
Balde de equívocos, espelhados
Há um esgaçar qualquer que vem das entranhas
Ou são apenas estranhas memórias de rigidez
Já não há quem gema assim
E as cadeiras em que se senta rangem sempre
Um adormecimento bélico
De convulsivos rasgos bravos
Sorvidos em vidas gastas
Tempo morto, absorto, abortado!
Ex-pele!
Se ele parasse! Como pára!
Como se prostitui em caracteres humanos
Pérfidos malandros
Há malandragens assim – como o fumo de cigarro
Esvoaçantes, gaguejadas em mentiras
Baú de mentiras – bruxuleantes intrigas contadas
Até serem verdade…
Quanto vale uma verdade?
Há mentiras vendidas ao quilo
Inverdades são genéricos mal compostos
Corruptas vísceras em revolta congestão
E o vómito, senhores, é a purgação
Para esta nauseabunda humanidade!

quinta-feira, setembro 04, 2008

Só desta vez!
Escorre de n.o.v.o. as mãos na janela!
Ainda gosto do deslizar
quando as gotas ficam suspensas.