sexta-feira, agosto 26, 2005

-Para esquecer-

Não esqueci a virtude do encantamento e a certeza da areia tardia que rasa os pés dançantes. Não esqueci o fervoroso véu da melodia que salpica o silêncio e se faz belo num pinheiral ventoso (há magia?). Não esqueci a calma do mar quando envolve as gotas restantes de uma vaga envolvente, salgada. Inebriada de sal e vaidade. Quero, sim, esquecer as solicitações de um mundo exterior, degradado, envelhecido e maturado pela filosofia da estupidez e o passadiço fulguroso da massificação. Quero, sim, sem dúvida alguma, esquecer - não lembrar- que este país parco em ideias, embriagado de injustiças, estonteante de ânsia de nada, existe. E por muito mais que se critique, avise, alerte, aponte o dedo: a cegueira colectiva, inoperante, assiste ao desaparecer de um Portugal verdejante. Sim, quero esquecer. Cansei-me de lembrar!

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