quarta-feira, outubro 25, 2006

(imagem original invertida)

Reparem! a ponta daquele dedo está inerte. Suspenso. A janela chia – as dobradiças pendem! Podia chover. Nevar. Ou aquele vento podia ranger os dentes de apressado, revolto [ou assobiar por entre as árvores despidas e já despojadas de outra sensualidade]. Duas da manhã [ou da tarde em qualquer parte do mundo]. O céu move-se. O tempo deleita-se com as névoas do suspiro. Podia chover sim! E soar nos ouvidos o gotejante líquido que toca as frinchas [e escorregar depois, com breve esfregar na madeira; ou aço; ou ferro; ou parede fingida de ternas (seriam?) madrugadas, agora escorreitas na manhã de Inverno – ou noite; quase a roçar o dia. Quase tudo! Ou tarde malograda, com odor a Outono, ou Verão; ou Inverno tardio que se demora nos poros da respiração [ofegante da intuição!]. E que depois se enterra nas entranhas das mãos agarradas ao, ainda, ar saturado do tilintar das vozes urbanas [e porque não poderiam ser outras; casual?]. Estridentes, meu amigo! Sonantes nos baús da farinha daquela casa.
Agora a Maria chora. Veste a camisola mal passada. Gruda-se nela, como a extensão daquela casa velha, abandonada - mais uma vez - onde a lareira sussurra as achas mal ardidas, como as palavras mal ditas [ se é que o que é dito, escrito falado, pode ser mudado – e magoam assim]. Está encorrilhada – aquela camisola cinzenta, parda- que não entende o que ouviu.
Podia ser que chovesse. E o céu lavasse aquelas vidraças plastificadas de lamentos do avô [que sempre os fez com o jeito do silêncio paternal, na quietude das ausências da casa]. Se chovesse podia ser que o tempo voltasse. Secasse as mãos enrugadas de alegria de terra revolvida – quente, saboreada de prazeres infinitos, inundada de folhas secas, estaladiças, sonoras, calmantes! [E mãos que rasgaram a terra, sulcando [violento] o ventre das raízes, salgando de tempo a poeira das ervas daninhas; e do prazer descompassado de cheiros de terra, humanos]. Suor salgado, amansado pela justeza da maturidade daquela candeia acessa ao fim do dia. Ele não se quebrou. A Maria já não chora. Cerziu a mágoa. Teceu um dia de cada vez naquele forno de promessas calejadas.

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