quinta-feira, outubro 19, 2006

Memória I


Os velhos gumes daquela casa abandonada
As verdes latrinas; lamacentas, fendidas ;
A salamandra oxidada
[e silenciada dos segredos corriqueiros; profundos depois]
como uma vela ardida até ao fim;
O suor da cera enrugada – parida mulher!
Como os dedos da velha enganada
[a traição aguça a agrura da pele]
E os pérfidos dedos com calos –
Do cerzir da agulha sob a palha fina da tua vida;
Ainda resta lá a cadeira partida;
Guardiã da luxúria derretida
Elouquecida pelos gemidos encobertos da palma da mão;
Ou o silêncio arcaico da nudez – novamente!
[Como se o nu fosse silencioso –
gritante na expressão e rasgado
No olhar de ver as formas fugidias da luz baixa- amarelada
E tragada como se nada fosse a primeira vez].
Não o era – pelo menos noutra vida
E a velha/outrora nova –
Disse-lhe com prazer que ainda sentia
As folhas secas que roçam
O Inverno daquele sol escondido pelas ventanas
De madeira rangente;
Deixa sair esta noite,
A manhã submersa que te cegou;
O desejo recalcado que enterraste;
Na mais leda raiz da madrugada.

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