quinta-feira, junho 22, 2006

© Vanessa Rodrigues

Ouvi o portão de minha casa a bater. A milhares de quilómetros de distância. Ouvi aquela hesitação do ferro no chão, antes de encerrar. Ouvi aquele roçar trémulo da fechadura a tocar a presilha. E pensei que eras tu. Pensei que me visitavas. Que entravas para a hora tardia do café. Ou do vinho. Ou do cigarro fraco, mal sorvido e com cheiro a caramelo. Baunilha? Por instantes pensei que entravas no pátio familiar. Por momentos entendi que ias abrir a porta de madeira, mais sonante que o portão. Ou já arranjaram, lá em casa, o tremor empenado daquela porta robusta e irritante ao fechar? Aquela que arranha o chão e deixa marcas cunhadas com o percurso da abertura? É que por segundos sonhei que batias com aquela entrada habitual. E que depois da longa caminhada, me envolvias como sempre.

Sem comentários: