segunda-feira, fevereiro 06, 2006

A imagem do Garcia

O Garcia ainda não percebeu os lados do espelho. As imagens reflectidas. Os meandros silenciosos que se quedam na sombra. Os contornos do seu rosto. Ainda não percebeu se é luz ou harmonia. Se violência ou calma as rugas que lhe correm pela face. Ele ainda não sabe. Ainda não descobriu a pura magia. A verdade escondida que lhe quebra o olhar. (Se se detém em pertinência. Ou esquece). O Garcia não sabe se é ele reflectido. Ou outro. Não se reconhece. Não se revê na luminância espaçada. No baço de um vidro fingido e que a ele não reflecte. O Garcia não entende. Ele queria ser outro no espelho. Queria ser a imagem que tem dele e não o rosto que aquele esgaçar de fragmentos na chapa de cristal estanhada espelha. O Garcia não gosta de espelhos, está visto. Não gosta da simetria dissimuladora. Dos pormenores da fealdade. Do ideal vazio que um objecto como aquele delata. O Garcia acha os espelhos fingidos. Injustos expositores que perscrutam a alma sem luta.

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