quarta-feira, novembro 30, 2005

A Esquizofrenia da Virtude

A Virtude (V.) não saiu de casa de manhã como habitual. Rendeu os seus gestos delicados ao pudor da preguiça. Como se deixou ela enredar assim, num acto vadio que não é o seu? Parece que ela é de medidas compassadas e trejeitos calculados. E nunca se deixou ela levar pelas balelas da perfídia e as críticas cobiçadoras das vizinhas Intriga e Má-Língua. Mas, daquela vez, a Preguiça usou de artimanhas maiores e seduziu-a com as técnicas apuradas- mesmo vampíricas- da publicidade desenfreada ao ócio.
"Mas cara Virtude, para seres ainda mais virtuosa não há nada como um sono de beleza prolongado para não danificar as rugas do tempo e o cansaço da perfeição"- alegou a Preguiça.
Ora visto que o Tempo está cada vez mais moribundo, e o cansaço padece de Alzheimer (esquece-se frequentemente que se cansa!) a Virtude achou por bem dar ouvidos à Preguiça - que se apresentou naquele dia toda aperaltada de falsos fundamentos dissimuladores.
Assim, rendida às técnicas do marketing e do consumismo, a Virtude, julgando ficar mais formosa em intelecto, decidiu quedar-se em casa...
Ao cair da noite. E sem que nada acontecesse, ela explodiu em pranto, perante o riso cínico da Preguiça que, naquele dia, se dignara a visitar V.
Depois, decidiu ultrajar-se e demitiu-se do cargo "imortal" a que alguém, um dia, a incumbira. Talvez por isso a Virtude tenha deixado de dar notícias. Está num centro psiquiátrico há anos. Motivo? Sofre de esquizofrenia crónica...Bem crónica!

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