terça-feira, maio 23, 2006

Divã de Insónia I

Ela caminha naquele canto da lua. Sentada no divã, onde outrora o sol tombou para afagar o pensamento fugidio. Afaga as páginas da história como uma vela duradoura; e que no fim se queda rugosa. Saboreada pela brisa e o pó sedento de oxigénio e repouso. Toca as palavras do livro remoto. Deixa deslizar a macieza das mãos na manta quente. Enrola-se. Aconchega-se a olhar a chuva que desce pelos vidros. Escorre apressada. Em fios encarreirados pelas brechas envidraçadas. Suspira, por vezes, mas logo desce, subtil.
As mãos estão agora enrugadas. O frio passa pelas frinchas das portadas de madeira. Range. Assobia como nos contos de infância. Profere vozes lindas. E a memória surge-lhe como bela. Expressamente bela! Reclina-se na filosofia do sono. Adormece. Enquanto o vento, lá fora, estonteia as árvores outonais e revolve as águas do lago sereno.

Sem comentários: