segunda-feira, julho 23, 2007

Às portas de Mértola

foto.grafias vnrodrigues

quinta-feira, julho 12, 2007

Se ainda por agora…


Revolta incerta ao mundo interior
[numa viagem casual ao corpo da memória]

texto e foto vnrodrigues

Os pés arrastam-se nas escadas. A meia-luz. Ou ainda a contraluz da rua sem sorrisos. A porta range – e abafa, por momentos, os pensamentos dela, meus, teus, nossos... A dobradiça tremelica. Deixa-a para trás. A luz da entrada mergulha num corredor escuro. Ténue! Tal como ela, percorre-o, incerta. O corpo cede ao peso da memória daqueles cheiros. [Ainda bafo mal dormido; ou orvalho matutino] E o peso carrega o corpo, injustificado de ideias alheias – ou ainda as dela. Respira! [Podíamos ainda hoje, trocar uns pensamentos sobre o assunto. Ao espelho?].

Arrasta-se! Quando olha para trás a porta ainda não (se) fechou. E pede à sombra que a afague, enquanto faz a porta chiar – como se apagasse a luz da rua sem sorrisos (que antes a abraçava num longo encantamento; que antes a irritava [como se o abrir e fechar fosse um desabafo atropelado de quem não sabe o que quer: "num-chegaste-e-já-vais" [é como se nunca tivesses ido]; incerto). Mas não é tristeza que carrega: aborrecimento. Revolta cabal – que ainda não pôs para dormir. Um leve calmante. A terapia da camisola de casa, como se se despisse para o mundo e se vestisse para a gala interior; a dela ainda – ou de quem ainda não conhecemos. É ela. Nós… somos ela!

Quer esconder-se. Sentar, dormir, deitar…Sentir! Constrange-se como uma criança que não sabe berrar; gritar. O brilho fosco do olhar. E ela só não queria voltar ao vazio da casa. [Um pensamento?] Ao eco sem sorrisos; ao ranger de portas sem passos apressados; ou ruídos de calçada; gargalhadas parvas, simplesmente sinceras. Nada, por ainda, agora! Só depois. Hoje não prefere o silêncio. Se ainda por agora, ela chegasse. [A luz?; a primavera?; a singela certeza?; amargura?; proeza de viver?]
Abre a janela. Quer já deixar o dia chegar ao bafo do mundo interior – ou aquele; ou o dela. Nunca sabemos!

As persianas gritam de arrelia. Arrepiam-se, irritadas. Atiçadas. O corpo na janela. A luz no corpo. Matéria no corpo. Rasguem tudo e não deixem nada [Gritem, pelo amor de deus!]. As memórias – aborrecidas. "O mundo ali é bem mais claro que aqui!". Suspira! Toca o peito como a afagar um pensamento. Sorri! "Afinal o mundo aqui é bem mais claro que por lá"! E ao espelho: toca-o. A mímica justa; ridícula das valsas triunfais do contemplar. E a revolta cabal que ainda não deitou para dormir. Olha-se! O corpo pálido quer cor. Quer volume e sorrisos; gargalhadas coloridas – que teimamos esconder! Somos nós! Estamos dentro de nós. Sem tempo linear!

As mãos revoltam-se. Punhos cerrados. Gestos rápidos - negros… Argghhhh! Só ela. Roça as mãos no mapa corporal. Espalham-se no corpo; como luz no corpo e matéria no corpo. O negro desliza [vermelho?]; enrijece os músculos; o rosto desfigura-se: tribal! Ombros; barriga; pernas. Quer se esconder? Refugiar num espelho que nada mostra e tudo vê.

[Será que ainda, por agora, ela mudou?]. E ela ainda se quer guardar. Dela; da imagem que vê. Não ela; não és tu; não sou eu; não somos nós. Nada! Sorri! Como sempre num assomo triunfal; tribal! Os lençóis manchados: e a matéria no corpo; como corpo na cor! Lençóis manchados que querem o corpo; e o corpo quer o manto da cama – para se encolher. E adormecer: como se ainda, por agora, fosse embalar o motim abafado. [Queres um cigarro?].

A porta abre-se. Não é ela. Pode ser. As costas nuas. Vazias. Não manchadas. Nem lençóis enrodilhados. Ela vai. Despede-se. O fumo deixa rasto para trás! Podemos ser: eu, tu, ela, nós! Será ainda, esta noite, que de manhã sai por agora? A mesma luz. A contraluz. A névoa que não vimos – nem sabemos. A porta que rangia, à revelia! E agora se abre. Ela vai; de costas voltadas. Sai, lentamente. Porque dela não precisa mais. Pôs a revolta para dormir. E depois do motim, já se sabe, que o despertar é um meio princípio de riso – como se voássemos cá para fora, de uma janela interior já certa de um "se- ainda- por- agora" – como corpo no corpo e matéria na memória!

quarta-feira, julho 11, 2007

foto.grafia vnrodrigues