Agora, sim, a saudade! Decorei este poema quando tinha 12 anos, para uma aula de português. A memória nunca o esqueceu e, uma vez que pensei nele, por causa da Helena Blavatsky, deu-me a saudade de o recordar: ali paradinha, em plena pré-adolescência, com o quadro de giz atrás e algumas dezenas de olhares centrados em mim e na minha timidez saiu a "Hora morta", tremidinha e, agora, tão actual como se fosse amanhã:
Fernando Pessoa
Hora Morta
Lenta e lenta a hora
Por mim dentro soa
(Alma que se ignora !)
Lenta e lenta e lenta,
Lenata e sonolenta
A lua se escoa...
Tudo tão inútil !
Tão como que doente
Tão divinamente
Fútil - ah, tão fútil
Sonho que se sente
De si próprio ausente...
Naufrágio ante o ocaso...
Hora de piedade...
Tudo é névoa e acaso
Hora oca e perdida,
Cinza de vivida
(Que Poente me invade?)
Porque lenta ante olha
Lenta em seu som,
Que sinto ignorar ?
Por que é que me gela
Meu próprio pensar
Em sonhar amar ?
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