É uma espécie de canto de gentio que serve de confessionário a todos os que respirem as agruras de uma cidade desgastada e não sabem a quem contar as peripécias de uma lide diária. O Garcia também lá vai todos os dias. Chega até a frequentar o lugar de expiação três vezes num dia. Mas esse homem de ar escorreito e transbordando pecado (dizem que o galanteador concede a perdição gratuitamente) vai ao Largo da Peripécia por outras razões. Esse homem de olhar astuto, perna delgada e respirar ofegante não tem veia religiosa e muito menos paciência para a hipocrisia das beatas. A seu modo, professa uma religião altiva, pouco redentora, mas só dele. Quis a sorte que nos últimos tempos ele ande mais circunspecto. O Garcia vai ao Largo da Peripécia para subornar os encantos singelos da mulher que lê Montálban sentada na relva. Parece que a doutrina da sedução o tramou numa meia tarde porque o Garcia anda mais devoto e menos pecador. A mulher de gestos finos e dada à leitura olhou-o de esguelha da outra vez. O Garcia enamorou-se e nunca mais voltou ao Largo da Peripécia. À mulher, nunca mais a viu.
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