É preciso comer pedras
e esventrar o ventre
para nascer de novo,
com fome de amor
cavar bem fundo
a dor que dilacera
esmiuçá-la
cultivá-la ao mais ínfimo
e cavernoso silêncio ermita
sofrendo de uma vez
o luto que se avizinha
alimentar-se dessa dor
usá-la,
gastá-la, criando
porque toda a criação
é uma forma de curar a dor
Divã d'Insónia
quarta-feira, fevereiro 08, 2012
terça-feira, abril 19, 2011
sufocam-se os ares
quanta asfixia que ali vai, na praia
entre mares arrebatados que explodem fúria em areias dormentes
e como refulgem os mares dentro de mim
e como refulgem...
e como se engolfam em ares asfixiados
espremidos, sufocados
hei-de um dia gritar até ser fim
hei-de um dia bramar a fúria que corre dentro, assim
para ser mar, para ser mar
para ser um deserto sem fim
para ser um ar aliviado da fúria que me arranca a sim
fora de mim, sempre, fora de mim
por ser mar, por amar, por um dia também ter querido
refulgir, enfim
entre mares arrebatados que explodem fúria em areias dormentes
e como refulgem os mares dentro de mim
e como refulgem...
e como se engolfam em ares asfixiados
espremidos, sufocados
hei-de um dia gritar até ser fim
hei-de um dia bramar a fúria que corre dentro, assim
para ser mar, para ser mar
para ser um deserto sem fim
para ser um ar aliviado da fúria que me arranca a sim
fora de mim, sempre, fora de mim
por ser mar, por amar, por um dia também ter querido
refulgir, enfim
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vanessarodrigues
sábado, maio 29, 2010
priva-cidade
é um lugar interior
lá atrás
partido. de partida, para nunca regressarmos. para sermos
para (re)construir
vivermos e voltarmos sempre atrás
vivemos e saímos para nunca sair. para sempre voltar
para ser a infância como estado puro, real.
marcada.
de vida (devida sapiência)
para viver
beber das lágrimas
sentir. prolongar
partir e regressar, intuir!
vivemos para nunca sair de nós
para sermos e sairmos dali, da cidade em nós.
com serviços adiados, em trânsito. fluídos.
horas alheias. as nossas. em jet lag. sem fusos horários
confusos. tão abstrusos. dos ciliciares
para que nós seja um refúgio liquefeito que o tempo consome
evapora. estado puro. volta.
vivemos para voltarmos. para que cidade em nós não se estranhe.
lá atrás
partido. de partida, para nunca regressarmos. para sermos
para (re)construir
vivermos e voltarmos sempre atrás
vivemos e saímos para nunca sair. para sempre voltar
para ser a infância como estado puro, real.
marcada.
de vida (devida sapiência)
para viver
beber das lágrimas
sentir. prolongar
partir e regressar, intuir!
vivemos para nunca sair de nós
para sermos e sairmos dali, da cidade em nós.
com serviços adiados, em trânsito. fluídos.
horas alheias. as nossas. em jet lag. sem fusos horários
confusos. tão abstrusos. dos ciliciares
para que nós seja um refúgio liquefeito que o tempo consome
evapora. estado puro. volta.
vivemos para voltarmos. para que cidade em nós não se estranhe.
sexta-feira, maio 28, 2010
estranhamento
ainda se permite estranhar.
há sempre o que lhe permite estranhar.
o homem é como pó que se entranha.estranho, nunca sempre o mesmo.
que se rebenta de partículas, separadas,
para deixar de ser um pouco mais pessoa.
as garras de fora. as antenas das nossas desconfianças. ainda se foi.
em que pensamos quando nos vamos?
em que guerras de dentro vencemos; as que falhamos? (todos os dias falhamos um pouco mais e nunca nos habituamos a elas).
o dia é falha. latente. vai-se.
ainda se permite estranhar. resta-lhe. sempre se vai.
é como as tardias despedidas. as que não chegam. e as que começam sempre antes que se acabem.
estranha-se. como se estranha. este lado de cá é um depósito de estranhamentos,
de hábitos, desábitos e coisas desabituadas de nós.
há sempre o que lhe permite estranhar.
o homem é como pó que se entranha.estranho, nunca sempre o mesmo.
que se rebenta de partículas, separadas,
para deixar de ser um pouco mais pessoa.
as garras de fora. as antenas das nossas desconfianças. ainda se foi.
em que pensamos quando nos vamos?
em que guerras de dentro vencemos; as que falhamos? (todos os dias falhamos um pouco mais e nunca nos habituamos a elas).
o dia é falha. latente. vai-se.
ainda se permite estranhar. resta-lhe. sempre se vai.
é como as tardias despedidas. as que não chegam. e as que começam sempre antes que se acabem.
estranha-se. como se estranha. este lado de cá é um depósito de estranhamentos,
de hábitos, desábitos e coisas desabituadas de nós.
sexta-feira, maio 14, 2010
há
há cabelos brancos.
esmalte desgastado.
estrias. pele a gelatinar.
há uma lenta agonia do corpo.
há um doce adormecimento de tudo isto.
há sangue arrebatado a correr-lhe nas veias.
há vontades, desesperos, solidões, fragmentos de agonia e sofreguidão.
há tristezas. autismo. há vazio. há isto.
há o balão que enche cá dentro e se vai.
há fumo, ar, estridências.
cordas que parecem amarrar o corpo.
há sistemas, esquemas, estratagemas, ulos gorgolejantes debaixo da terra a descansar com as raízes.
Ais, quero tanto mais, e não quer nada disso.
há supiros.
há homens e mulheres que nada disso são para serem melhores e mais.
há resquícios de nós, porque somos restos de alguma coisa que poderíamos sempre ser melhor.
há pedaços, sempre pedaços, e há suspiros, outra vez.
quero ser nuvem, sopra-lhe para que daí se vá..
esmalte desgastado.
estrias. pele a gelatinar.
há uma lenta agonia do corpo.
há um doce adormecimento de tudo isto.
há sangue arrebatado a correr-lhe nas veias.
há vontades, desesperos, solidões, fragmentos de agonia e sofreguidão.
há tristezas. autismo. há vazio. há isto.
há o balão que enche cá dentro e se vai.
há fumo, ar, estridências.
cordas que parecem amarrar o corpo.
há sistemas, esquemas, estratagemas, ulos gorgolejantes debaixo da terra a descansar com as raízes.
Ais, quero tanto mais, e não quer nada disso.
há supiros.
há homens e mulheres que nada disso são para serem melhores e mais.
há resquícios de nós, porque somos restos de alguma coisa que poderíamos sempre ser melhor.
há pedaços, sempre pedaços, e há suspiros, outra vez.
quero ser nuvem, sopra-lhe para que daí se vá..
o que te resta
explodes. respiras.
há a vida para uma eternidade, parece-te
encolhes, esticas.
e o eterno é um tempo passado, modorrento
é léxico parco no deambular
horas vagas, lentas
respiras. como respiras.
sonhos, bebes do ar
no lento aconchego do sussurro, de um sono que vem, enquanto tens tempo para ele.
há a vida para todo o sempre
sonhos, muitos sonhos, que faremos
faremos tantos! Ainda há tempo!
naquele dia; haverá sempre aquele dia em que o faremos
depois vem o futuro, que é presente
agonias, resignas-te, consolas-te, baixas os braços
o diafragma encolhe. desaprendeste a respirar. a encher o peito!
vêm os sonhos engavetados,
vem o léxico farto e a falta de tempo
vem a vida, ou um pedaço do que pode ser ela, quando começamos a deixar de viver
quando agoniamos no farrapo do que resta de nós, à noite
quando a máquina se vai por instantes
haverá quem te enxugue as lágrimas
se houver, a vida pode parecer-te essa eternidade que um dia foi
se houver, o todo deste nada pode ser tudo o que te resta
há a vida para uma eternidade, parece-te
encolhes, esticas.
e o eterno é um tempo passado, modorrento
é léxico parco no deambular
horas vagas, lentas
respiras. como respiras.
sonhos, bebes do ar
no lento aconchego do sussurro, de um sono que vem, enquanto tens tempo para ele.
há a vida para todo o sempre
sonhos, muitos sonhos, que faremos
faremos tantos! Ainda há tempo!
naquele dia; haverá sempre aquele dia em que o faremos
depois vem o futuro, que é presente
agonias, resignas-te, consolas-te, baixas os braços
o diafragma encolhe. desaprendeste a respirar. a encher o peito!
vêm os sonhos engavetados,
vem o léxico farto e a falta de tempo
vem a vida, ou um pedaço do que pode ser ela, quando começamos a deixar de viver
quando agoniamos no farrapo do que resta de nós, à noite
quando a máquina se vai por instantes
haverá quem te enxugue as lágrimas
se houver, a vida pode parecer-te essa eternidade que um dia foi
se houver, o todo deste nada pode ser tudo o que te resta
sexta-feira, maio 07, 2010
manifesto de ciranda
Lis é
cirandar, no singular
a preferir um plural de palavras
que um dia disseste sobre a primeira vez
cirandar é Lis num fio-de-pesca
que traça o pescoço, as mãos, cá dentro
Lis ciranda a preferir plural,
a eternizar o começo, como da primeira vez
cirandar estraçalha e dói
ciranda dentro dela é lembrar que as palavras, as plurais, são o oco do singular
que sempre vem
com a última vez
cirandar, num constante fim
com medo de recomeçar, como se fosse a primeira vez
cirandar, sabes, é voltar a fazer de sentidos vendados
cirandar é nunca aprender que há fim
cirandar, ouve, é cair outra vez
cirandar, percebe, é nunca ver azul após intempérie
cirandar em mim, sei, é andar com a máquina de tempestades às costas
cirandar, é um manifesto de colo que Lis nunca tem
ciranda é a paz que ela quis
é uma areia movediça, um saco apertado com sufoco
cirandar é Lis a não entender por que amar é um posto de ciranda a desequilibrar
sexta-feira, março 19, 2010
Praia dos Ingleses
A tiritar de frio. Mar ali à frente, Atlântico-cobalto. Levantar a cabeça: Azul-céu. Deslizá-la em frente. Cargueiros em contraluz, recortados e portentosos mesmo a esta distância, tão pouco nítida e demasiado longínqua para que adivinhe qual a temperatura dos corpos que ali carrega. Quanto tempo a nado em água fria se aguenta até à lonjura? Que lonjura tem esse longe?
Cachecol enrolado ao pescoço. Pele escondida, arrepiada. Sedenta. Mãos encavilhadas nos bolsos de algodão deslizante. Os olhos trémulos da luz opaca e intensa do sol enrodilhado em nuvens. Ele já não vem.
Tábuas encaixadas, beatas deitadas ao chão. Cheiro de mar. Ar que cai no rosto, a tiritar de Primavera. Salvam-se as mãos, encerradas em casulos de casacos, quentes. Areia sépia, grão a grão, lambida por saliva de mar. Lasciva. Beijos molhados de água gelada e os passos em madeira falsa. Beijos.
Duas mulheres amarguradas. Outra de mãos que folheiam páginas de Fúria Divina. Os pés inchados. Como ela tinha os pés inchados e a alma triste. Estava triste. A alma não sei. Passava a mão pelo cabelo tantas vezes. Pentear-se da brisa que despenteia. Céu de fundo-horizonte-alaranjado-prata.
O caderno para as notas. A fotografia-telemóvel ao sol que veio. Ele veio. Afinal veio. Achávamos que já não vinha. Arrastou a modorra das nuvens e espreguiçou-se à tarde de fim, que as páginas daquela Fúria não sabem o que são. Talvez uma Conspiração contra a América. A que lias. A que urdes no pensamento, página a página para um baú de memórias de comprazimento. Quase adormeces. Mãos delicadas, finas, às vezes entristecidas, e subtilmente vivas para agarrar a cigarrilha. A mim. Cabeça cabisbaixa, concentrada. Não reparas que o vento te pôs fios do cabelo a tiritar. Branco, preto. Cinza.
Corpo inclinado. Pés pequenos. Demasiado pequenos para sapatos apertados. Mulheres, ainda, amarguradas com homens adúlteros. Camisolas de manga curta a esvoaçar. Tremelicar. Sangue de hormonas novas ainda a esfregar-se no ar. A saborear o ar. A degustar como se sai dos poros até descobrirem que não conseguem cheirar.
Yamina traz o chá. Branco. Tão branco que é âmbar. As folhas a descer. O quente a evaporar-se em frente às mulheres afligidas por homens infiéis e de olhos escondidos.
O homem lê lá atrás. Um cigarro esmiuçado pelos pulmões. Outro. Cinco páginas para cada um. Marlboro Light. Terá a voz rouca. Terá os dedos amarelados, nervosos, polidos por páginas de poucos livros.
As mulheres da praia a apanhar conchas. Há sempre mulheres na praia a apanhar conchas. Resgatadas do desencanto da velhice para a caixa dos sonhos de infância. Quantas caixas de infância temos? E é lá que queremos voltar.
Recolho-me. Penso. Respiro. Às vezes não respiro. Ou a respiração trata de me acelerar. Há sol, afinal ele veio.
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