terça-feira, maio 30, 2006

Em Timor-Leste

Custa-me pensar que tudo possa ter fracassado em Timor-Leste. Que o esforço tenha sido em vão. Que as centenas de vigílias; movimentos de pressão; movimentos políticos, humanitários, culturais; sofrimento; lutas sociais, bélicas; dor e amargura vivenciadas tenham sido um vácuo. Uma fortaleza minada. Uma peleja que rebola sobre o abismo. (Sonho por concretizar!)
Lamento o recrudescimento da violência, da insegurança e da instabilidade. Custa-me crer que a jovem democracia esteja doente. Acreditei muito nesta paz. (Acredito, ainda, apesar de desiludida!) Haverá muitas dívidas a pagar nessa sofreguidão e superficialidade política. Neste jogo de interesses mesquinhos que não entendo e desconheço, em rigor. Amargura-me mais uma vez pensar no inferno de quem nada tem a ver com a crise e mais sofre. Muitas vezes irreversivelmente.

segunda-feira, maio 29, 2006

Não digas Nada

TEATRO (IN)CERTO APRESENTA

"Não digas Nada" de Tiago Torres da Silva

Com:
Maria Teresa
Helder Magalhães

Encenação:
José Matos Silva

Cenografia:
César Filipe Costa

Técnica de luz e som:
Rita Fernandes

Adereços:
Dulce Amieira

8, 9 e 10 de Junho (21h45)

Auditório Horácio Marçal
Junta de Freguesia de Paranhos,
Rua de Álvaro Castelões, 811
Porto, Portugal
Há uma fome insaciável na ansiedade do poder. De que serve a hierarquia imposta? Ou a espontânea? Senão alinhar com o que Darwin dizia. Em nome dos mais fortes. Para que perdurem os mais fracos. Ou a ilusão inconfidente de que são os mais fracos!

quinta-feira, maio 25, 2006

Dúvida

© Vanessa Rodrigues
Sou da neblina que se dissipa, assim
Das manhãs incertas que vagueiam na encosta de luminância
Perdidas e irisadas de ventos vagabundos;
Do sabor silencioso que entra cá dentro;
Do toque diáfano que aconchega a caminhada;
E do tempo?
Do impasse e avanço corrido
Que pára; tropeça; soçobra,
E depois se ergue forte;
Do sorriso emancipado do pensamento;
Da ternura invisível que se deixa tombar;
Do progresso inusitado e estridente que sente ao passar.

quarta-feira, maio 24, 2006

Rosto Invisível

Deita-se na calçada imunda. Deixa a morrinha afagar o rosto seboso e percorrer as frinchas escondidas da barba que esconde a idade. Cobre-se com farrapos de várias cores. Mais negros de sujidade. O chão está escorregadio. O pó desliza, enamorando-se das gotas sensíveis. Ele tosse convulsivamente. Uma, duas e mais vezes. Sucumbido pelo frio de Inverno. Pragueja do tempo. Insulta as pessoas que passam e vivem melhor que ele. Esfrega a bolsa no chão. Acende o cigarro desfeito, em busca de um prazer momentâneo que o faça esquecer a displicência. E a esquálida sordidez do corrupio que desliza aceleradamente por ele.

terça-feira, maio 23, 2006

Divã de Insónia I

Ela caminha naquele canto da lua. Sentada no divã, onde outrora o sol tombou para afagar o pensamento fugidio. Afaga as páginas da história como uma vela duradoura; e que no fim se queda rugosa. Saboreada pela brisa e o pó sedento de oxigénio e repouso. Toca as palavras do livro remoto. Deixa deslizar a macieza das mãos na manta quente. Enrola-se. Aconchega-se a olhar a chuva que desce pelos vidros. Escorre apressada. Em fios encarreirados pelas brechas envidraçadas. Suspira, por vezes, mas logo desce, subtil.
As mãos estão agora enrugadas. O frio passa pelas frinchas das portadas de madeira. Range. Assobia como nos contos de infância. Profere vozes lindas. E a memória surge-lhe como bela. Expressamente bela! Reclina-se na filosofia do sono. Adormece. Enquanto o vento, lá fora, estonteia as árvores outonais e revolve as águas do lago sereno.

Miragem

© Vanessa Rodrigues

terça-feira, maio 09, 2006

Por Vanessa Rodrigues

É quando prefiro o silêncio da música
Que me reclino nas palavras que vadiam cá dentro;
Nas misérias fantasma que me assolam o sentimento;
No calmante trago que o vinho deixa com a saliva.
E o frutado álcool que estonteia e liberta.

É aí que percebo o lirismo do sonho;
A conquista desenfreada que me impele a suportar,
Que me justifica os caminhos como ténues atalhos;
Trilhos com rumo, e desprovido de ilusões.

Danço na pedra vazia, bem longe de todos.
Rio-me da felicidade. Do sentimento bom.
Da vibração incomum da flor da calçada.
Da luz do equinócio que me deixa respirar - finalmente!

E lá que sou feliz.
No mundo saboreado e de texturas diárias.
Onde aprendo sempre, a ver um som.
A imaginar uma cor.

Outra e mais outra!
Talvez sejam muitas. Como as palavras.

É nessa sede de saber.
Nessa consciência incessante de que o ciclo é curto
Na inconfidente pureza. Que sou feliz.

No silêncio da música de quem vê um som.
O percebe. E a ele se estende.

Como essa neblina que me afaga o rosto.
Que me reclina absoluto na poltrona viva da vida.

Nessa tela colorida.
Nesse cenário singular,

Onde pinto a preto e branco as cores de todo o mundo.
As gradações estonteantes das emoções;
escondidas pela expressividade do rosto,
a querença sólida de outra manhã assim.


sexta-feira, maio 05, 2006

Vanessa Rodrigues @ Copyright
Maio de 2006

quinta-feira, maio 04, 2006

Para lá, infinito!

O corrupio já quase não se ouve.
A azáfama já não estremece;
Já não melindra os passos apressados;
O burburinho já se percebe longe,
Na encosta daquela luz tímida que o silêncio absorve
Tão serena.
Quietude malandra. Adocicada e ébria.
Enternecida pelas causas comuns;
Ou os gestos palacianos da sagacidade ruim;
Do violento sopro da luxúria;
Dos gestos rebuscados;
Das expressões sedentas de lugares sem tema;
Balelas contorcidas;
Esquecidas em mentiras ternas;
Como a voz do vento fingido
Que me roça o cabelo e a calma.
Já soprei. Já embalei o sono da fome;
A justeza das palavras que ficam cá dentro e não saem
Para te abraçar, sem sorver o sonho
Apenas o instante do lance.
Aguerrido.
Estendido na fina memória .

Utopias I





Por Vanessa Rodrigues @ Copyright
Brasília, Maio de 2006