quinta-feira, setembro 29, 2005

-"Propaganda silenciosa?"-

Por esta altura já todos devem saber. Já todos devem ter reparado. Se não logo durante a manhã de ontem, foram obrigados a isso durante o dia. Os jornais diários portugueses (gratuitos e pagos) foram manchados de azul. O papel vestiu-se de tudo menos de jornal. Recusei-me a comprá-lo.
Recusei-me a pactuar com a vampirismo da publicidade. Recusei-me a alinhar com a degradação da informação que é cada vez mais publicitária e troco de uma publicidade que é cada vez mais informação.
Esta intoxicação (des)informativa, este esbater de barreiras entre o legítimo e o ilegítimo; esta mescla de símbolos, ícones e violências simbólicas que nos afastam cada vez mais do que é real, para se converter em propaganda vulgarizada; é corrupta (mas, infelizmente, consensual).
O mercado já não compra o nosso olhar, a nossa atenção: impõe-se de tal forma espontânea e gratuita que as nossas defesas, as nossas alternativas quedam, declinam ao limite da desumanização. Hão-de perceber porquê!

quarta-feira, setembro 28, 2005

Fera casta, amansada pelos ventos agrestes de choros soçobrados. Cria sincera, jubilosa de vida e encantada pelo doce enamoramento do primeiro sopro, até ao derradeiro suspiro.

segunda-feira, setembro 26, 2005

O céu quebrou-se em pranto agressivo, desejoso de ventos supremos que pudessem limpar as águas escorreitas que desciam sobre o abismo da Terra. Esqueceu-se das frentes quentes, que limpam, num ápice, os desejos serenos.

terça-feira, setembro 20, 2005

[Silêncio Infinito III]

Se o sangue dos ditos escorrer exangue de maldição,
Augura-se solidão perpétua conforme os ditames da esquálida voz que sai dos seus olhos.
É humano.
Deífico.
Talvez celeste, angelical;
Diáfano de gestos e sereno no respirar depois da vingança.
Delicioso prato frio que o sangue derramado acompanha.

sexta-feira, setembro 16, 2005

[Silêncio do Infinito II]

No silêncio da causa absoluta há um virulento, mordaz acicate que corrói as clemências do sonho. E por muito que se teime em sonhar, a pausa delonga a sorvida aspiração para a entregar ao cárcere da suspensão. Talvez uma não-vida sem espécie de retorno.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Morrem as vontades desleixadas, voltadas ao impropério da ignorância e à injustiça das indemnizações da alma.

terça-feira, setembro 13, 2005

[O silêncio do Infinito I]

São ventos dobrados das ternas madrugadas
Que repousam nas áureas asas do infinito;
E retorquem ao vento as frinchas da sorte,
num silêncio absoluto de serenas confissões.

É aí. Bem alto. Na alta esfera do pensamento que a lassidão se perde.
É justo ao clemente sinal da devassidão mortífera que ele se solta, numa anátema escondida para prender a morte.

sexta-feira, setembro 09, 2005


[Duas torres/Tróia]: palavras compostas por imposição, legitimidade da qualidade do que é medíocre; implosão, festa, circo mediático, náusea, política cada vez mais degradante, cenário estupidificante.


- "in dicionário da vida portuguesa, 2005 ª edição revista e piorada"-


quarta-feira, setembro 07, 2005

O senhor Júlio fechou a mercearia mais cedo.
O Juca deixou a Gigi no shopping com o aviso habitual: "Vai lá 'mor. Vê se não gastas muito dinheiro. Volto daqui a duas horas".'
A dona Cândida acabou as lides da sala mais cedo, porque dentro de minutos aquele espaço transformar-se-ia num santuário de homens, frente ao santo televisor.
O André faltou à aula de música, à aula de natação e foi-lhe desculpado não pôr a mesa. "Vá! Por hoje passa".
A Celeste recebeu beijos apressados. O namorado hoje não abusou da sorte. Não lhe pôs a mão nas pernas a pedir mais qualquer coisinha.
O Garcia fingiu uma enxaqueca forte, para poder sair mais cedo do trabalho (mais tarde viria a saber que os colegas foram dispensados para sair meia hora antes). Afinal era o santo futebol. Era a Selecção. Há que ter tolerância.
Pois é! Só é pena que Portugal não páre. Não se indigne. Não refute os resultados com os árbitros da política- da gestão do país, do rumo desnorteado- quando o tema é a calamidade dos incêndios. Nessa altura, Portugal vive a vidinha pacata. Não se exalta. Pena é que o mais importante não páre o país, por um minuto que seja.

terça-feira, setembro 06, 2005

Atrofio a segurança da incertza e a insensibilidade da injustiça. Passo bem as escolhas sensatas. Hoje ninguém me disse que o silêncio do mundo não é a ausência de som, mas a hiprocrisia e a cegueira colectiva. Pensei-o!

domingo, setembro 04, 2005

Ele bem lhe disse que a certeza do olhar era um abismo infundado por que respiram os loucos, em noites vadias de álcool e visões obtusas do universo do amor.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Durmo nas calhas perdidas sacadas pelo tempo. Nos murmúrios venturosas das margens do rio. Na quietude perdida do ferro oxidado, justificado pela degradação e a justeza de um aperto de mãos. Durmo escondido no túnel da memória. No atrofio fugidio de uma balada mal ouvida, esquecida (talvez ansiosa de uma pauta musical, onde a clave passe a ser a de Sol e não a da Lua sombria). Durmo refugiado no teu abraço distante, na quimera saliente que o sonho acolhe no bolso da esperança. Durmo estendido, entregue à forma do relógio incessante, saboreado pela passagem recordada que as mãos abafam para suster o grito.